(Foto: (shotbydave/iStock))
1 - Por que o diesel e a
gasolina sobem tanto se o Brasil é um grande produtor de petróleo?
De um lado, a Petrobras faz
dinheiro exportando óleo cru. De outro, produzindo diesel e gasolina com seu
petróleo para vender no mercado interno. A exportação de matéria-prima, porém,
é mais lucrativa. A gestão Pedro Parente, então, decidiu focar na exportação,
diminuindo a produção de derivados. Para suprir a demanda por diesel e
gasolina, a estatal e suas concorrentes importam os combustíveis. De acordo com
a Associação de Engenheiros da Petrobras (Aepet) o diesel importado respondia
por 41% do mercado em 2015. Em 2017, já tinha subido para 80%. Os preços dos
combustíveis importados flutua diariamente no mercado internacional,
acompanhando a variação do barril de petróleo. Se a Petrobras não acompanhar
esses valores, reajustando seus preços diariamente, corre o risco de amargar
prejuízos. É o que vinha acontecendo até 2014, quando a empresa era obrigada a
comprar combustíveis lá fora por um preço maior que o de revenda no mercado
interno. Era como se a estatal comprasse algo por R$ 10 e tivesse de revender a
um preço tabelado em R$ 7. Essa política sangrava o caixa da Petrobras, e
colocava a própria existência dela em risco. A adoção dos reajustes diários, em
julho de 2017, foi considerada o movimento mais importante da companhia rumo à
saúde financeira. Mas aí apareceu uma pedra no meio do caminho: de 2016 para
cá, o preço do barril no mercado internacional subiu 170%, de US$ 28 para os
atuais US$ 76, o que nos leva à segunda pergunta.
2 - Por que o petróleo aumentou
lá fora?
Quando o barril estava abaixo
de US$ 30, a Arábia Saudita liderou uma freada na produção global para reduzir
a oferta, e fazer o preço subir na marra. A medida demorou para surtir efeito,
porque os estoques dos países consumidores estava cheio de petróleo comprado a
preço de banana. Conforme os estoques foram reduzindo, do meio de 2017 para cá,
os petróleo ficou mais caro. A recuperação econômica dos EUA e da União
Europeia, que só agora começam a se ver livres da crise que começou em 2008,
também pressionou a demanda. Para piorar, os EUA voltaram a boicotar petróleo
do Irã, um dos grandes exportadores do planeta, por razões políticas - o que
fez a oferta de petróleo diminuir mais ainda, e os preços voltarem à
estratosfera.
3 - Mas e a alta do dólar?
Pois é. Não dá para comprar
petróleo com reais, ou com qualquer outra moeda que não seja o dólar. O
problema é que o dólar está caro, e por um motivo que nada tem a ver com
petróleo. Os EUA estavam aplicando uma política de juros perto de zero para
fomentar a economia (quanto menores os juros, maior o consumo). Com a
recuperação, os juros americanos começaram a voltar a taxas mais próximas das
normais. Só tem uma coisa. Os juros também balizam o quanto um país paga para
pegar dinheiro emprestado (dinheiro sem o qual nenhum governo consegue tocar as
despesas do dia a dia). Pois bem. Os juros de longo prazo dos títulos da dívida
pública americana subiram de algo perto de zero para 3% ao ano. Para comprar
títulos da dívida americana, você precisa de dólares. Quando esses títulos
ficam mais atraentes (e 3% é atraente para uma moeda que inflaciona pouco, como
o dólar), a demanda pela moeda americana sobe. Moeda, afinal, também é
mercadoria. E pagando juros bons sem o risco de inflacionar, o dólar se torna
uma mercadoria requisitada. Nisso, o real e todas as outras moedas perdem
valor, já que você vai precisar de uma quantidade maior delas para comprar cada
dólar. Mesmo assim, o aumento do dólar não foi
tão relevante. A moeda americana subiu 12% nos últimos 12 meses, contra 22%, em
média, da gasolina e do diesel.
4 - Quem começou a greve?
Não foi possível detectar uma
liderança centralizada até agora. A organização foi com base no Whatsapp - num
modus operandi que lembra mais os protestos de 2013 do que uma greve clássica,
com líderes estabelecidos. Mas há evidências de que as empresas de transporte
estejam por trás do movimento. De acordo com o sociólogo do trabalho Ricardo
Antunes, da Unicamp, 55% dos dois milhões de caminhões que circulam pelo país
pertencem a empresas. Sem as grandes companhias envolvidas, então, dificilmente
haveria uma greve tão generalizada. Tal atitude, como você deve estar
acompanhando no noticiário, é crime. Empresários não podem paralisar seus
serviços para obter vantagens do governo - só trabalhadores têm esse direito.
5 - Foi só por causa do preço
do combustível?
Não. A situação dos
caminhoneiros e das empresas de transporte se complicou com a recessão. Quando
a economia crescia com força, no final da década passada, o governo federal
passou a oferecer crédito barato, via BNDES, para a compra de caminhões.
Natural. O "gargalo logístico" sempre foi um freio para a nossa economia. A
medida melhorou nossa capacidade logística. De 2009 para cá a frota de
caminhões aumentou em 40%. A economia, porém, subiu só 11%. Nisso, passamos a
ter caminhão demais para frete de menos. Todos foram obrigados a reduzir seus
preços, operando com margens de lucro bem menores. Então veio a escalada no
preço do diesel para comer uma fatia desse lucro já minguado. Foi a gota que
faltava.