A 10º reunião de Cúpula do Brics, com chefes de Estado do Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul, em Joanesburgo, na África do Sul,
evidencia a mudança de agenda do bloco.
A agremiação dos países foi diplomaticamente criada, no esteio da crise
financeira internacional de 2008, com o objetivo de aumentar atuação e o poder
de voto dos países emergentes em organismos multilaterais como o Banco Mundial
e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
“A associação tinha objetivo principal de reformar as instituições de
governança financeira globais”, lembra Guilherme Casarões, professor de
Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas.
Segundo o especialista, em vez daquela agenda, os países adotaram a
defesa do comércio multilateral e avançaram na criação do Novo Banco do
Desenvolvimento, chamado “Banco do Brics”, que poderá ter escritório
regional em São Paulo após decisão na reunião de cúpula.
Para Casarões, o Brics “não é um bloco a reboque da China”, mas a
desigualdade das economias limita o potencial de comercialização entre os
parceiros. A pauta de exportação do Brasil, por exemplo, se destaca pelo
predomínio de produtos de menor valor agregado como carne, soja e minério de ferro.

10ª Cúpula do
Brics, em Joanesburgo, na África do Sul - Mike
Hutchings/Reuters/Direitos reservados
Na avaliação de Casarões, o momento político do Brasil, com eleições
marcadas para 7 de outubro, retira “margem de manobra” dos atuais
negociadores. “A incerteza eleitoral torna muito difícil que o Brasil assuma
posições definitivas como a disputa entre a China e os Estados Unidos”,
assinala.
O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Jorge de
Lima, admite que o destino político do Brasil “causa curiosidade”, mas aos
interlocutores que indagam sobre a perenidade das políticas comerciais lembra
que “a burocracia é sólida, formada por carreiras públicas como corpo
diplomático e de comércio exterior, que continuará trabalhando com a visão de
Estado. A orientação é continuar avançado”.
O ministério divulgou dados
que registram o incremento do comércio com os parceiros dos Brics. “De janeiro
a junho deste ano, o Brasil exportou US$ 33,1 bilhões para Rússia, Índia, China
e África do Sul. Houve um crescimento de 5,4% em relação ao mesmo período do
ano passado, quando a venda para esses países somou US$ 31,4 bilhões. As
importações somaram, neste ano, US$ 18,3 bilhões, o que resulta em um superávit
comercial de US$ 14,8 bilhões”.
Edição: Carolina Pimentel